sábado, 30 de agosto de 2008

A Evolução das Calcinhas


Ao longo do tempo, a peça íntima feminina deixou de ser meramente funcional para se tornar uma poderosa arma de sedução, item essencial do guarda-roupa e objeto de desejo nada que fica tão escondido faz tanto sucesso no mundo como a calcinha.

Há poucos estudos no mundo sobre a evolução da calcinha. Mas, segundo historiadores, foi há cerca de 500 anos que surgiu o conceito de roupas de baixo, ou seja, de peças confeccionadas especialmente para proteger, aquecer e manter a higiene das partes íntimas femininas.
A missão de reunir essa história é difícil. A historiadora Laura Ferrazza de Lima lembra que há poucas referências sobre roupa íntima na cronologia da moda. Segundo ela, o principal alvo de estudos é, geralmente, o espartilho, e que a calcinha acaba sempre ficando de lado. O autor de Dicionário de Moda (Editora Campus), Marcos Sabino, conta que na Roma Antiga as mulheres usavam bustiês e tangas feitas de amarrações, que lembravam uma fralda.

Mas como essas peças muitas vezes eram usadas para se exercitar, ou como vestimentas nos dias de calor, não se encaixam na classificação de roupa íntima. Assim, é a partir do século 15 que as roupas de baixo começam a assumir o posto. Proteger, aquecer e manter a higiene. Essas eram as funções de um bermudão larguinho, usado sob um camisão que era, só então, coberto pelo vestido.

O modelito em absolutamente nada lembra as diminutas calcinhas atuais. Tudo bem, 500 anos de distância foram mais do que suficientes para estimular essa evolução. Assim como todo o restante do guarda-roupa. Mas o processo só se acelerou no século passado, o 20. O bermudão atravessou toda a Idade Moderna e uma boa parte da Contemporânea, quando as pinceladas de feminilidade começaram a surgir, com as bombachinhas enfeitadas por rendas nas pernas. A renda, inclusive, se manteve como ponto comum das lingeries desde então.

Nos anos 1920, modelistas de alto nível, como a francesa Madeleine Vionnet, desenvolviam coleções de lingerie com tecidos finos. Voal triplo, crepe de cetim e georgete eram ornamentados com rendas delicadas, como registra o livro Les Dessous de La Féminité, un Siécle de Lingerie, de Farid Chenoune. As pin-ups dos anos 40 e 50 ostentavam calcinhas grandes, cobrindo todo o bumbum, enfeitadas com diversas fileiras de babados de renda.

Com o passar do tempo, o avanço tecnológico foi deixando sua contribuição para o mercado, possibilitando novas misturas de tecidos e, por conseqüência, novas formas.

- O grande protagonista da evolução da calcinha é a própria indústria têxtil, tecidos e elásticos que vão mudando - comenta Margaret Lewinski, designer de moda íntima, acrescentando que a evolução cultural e estética, sobre o que se acha bonito ou não em uma época, também foi decisiva para que chegássemos à liberdade dos modelos atuais.

Silhueta brasileira

O grande trunfo da indústria brasileira de lingerie é muito mais do que a matéria-prima, a forma.

- As brasileiras têm um jeito de esconder e revelar que é muito próprio. A diferença da modelagem brasileira para as peças européias, chinesas e americanas é tão grande que as mulheres acham que as nossas peças são para crianças ou adolescente - revela Margaret. - As peças precisam passar por adaptações para serem exportadas.

O brasileiríssimo fio-dental, por exemplo, que sofreu adaptações e agora, muito mais do que buscar sensualidade, é um bom recurso para não marcar a roupa, começa a ganhar o mundo.


Calcinhas na História

De acordo com essas comparações o mundo evoluiu muito, e o homem cada vez mais sugere novas mudanças. O que antigamente era proibido hoje em dia é moda, e o que é proibido hoje, antigamente nem sonhara que isso aconteceria algum dia.




Idade Antiga

Em escavações, foram encontradas peças de roupas semelhantes à calcinha no Egito e na Grécia, mas é possível que fossem utilizadas durante a menstruação. Na Roma Antiga, mulheres usavam bustiês e tangas feitas de amarrações, lembrando uma fralda - seria a indumentária para fazer exercícios.

Séculos 15 a 17

O cristianismo trouxe a idéia do pudor, que cobre o corpo. As vestes eram muito pesadas, e as mulheres muitas vezes não usavam nada por baixo. Havia o cinto de castidade, uma calcinha de ferro trancada a chave que garantia a fidelidade das mulheres de quem partia para a guerra. Sob as saias e os vestidos, panos eram amarrados ao corpo, provavelmente no período menstrual.

Na Idade Média e no Renascimento, as vestes íntimas das mulheres ainda se assemelhavam às dos homens. Pedaços de pano eram amarrados às pernas e à cintura. O próximo passo foi o surgimento do calção. Larguinho, era usado debaixo de um camisão. Só depois vinha a saia ou o vestido. As peças mais antigas de que se tem notícia datam do período Tudor (1485 a 1603), na Inglaterra.
Calções bufantes de algodão vestiam indistintamente homens e mulheres por baixo das vestes. Não se tratava de uma peça com preocupação estética: o objetivo era resguardar a intimidade.

Século 18

As ancas laterais deixaram as saias e os vestidos mais rodados. Diante da nova moda, os médicos advertiam que as mulheres não deveriam "pegar frio" nas partes íntimas. Surgiram, então, as bombachinhas, até os joelhos, com rendas e bordados.

As mulheres usavam um verdadeiro arsenal de acessórios por debaixo dos vestidos. Eram calçolas (como um short), calças, petticoats (tipo de saia de baixo) e armações de arame. Com a Revolução Industrial e a proliferação das máquinas de costura, o algodão se popularizou na Europa. As mulheres, no lugar de costurar suas roupas íntimas em casa, passaram a comprá-las em lojas. Nessa época, as estampas já eram comuns.

Século 19

Na segunda metade do século 19, as mulheres usavam ceroulas e calças bufantes com renda debaixo de uma coleção de saias. Com essas calças, que tinham o objetivo de manter as pernas das moças longe dos olhares curiosos, as saias puderam encurtar um pouco. O charme, especialmente na era vitoriana (1837-1901), era a combinação da calça com as saias e os vestidos.
As bombachinhas sob as saias começam a se disseminar além das classes altas. Na era napoleônica, somem, já que os vestidos ficam mais retos. São retomadas em seguida, e o comprimento encurta, até a altura da coxa.

Século 20

É o século das grandes mudanças. A partir da II Guerra Mundial, as mulheres passam a usar calças compridas e substituem os homens no trabalho: precisavam de roupas mais práticas. Paralelamente, os tecidos sintéticos, em especial o náilon e o elástano, possibilitaram novas modelagens para a roupa íntima: se a calcinha em tecido natural, mais rígido, precisava ser grande para passar pelas pernas e pelos quadris, os novos tecidos, mais elásticos, permitiam modelos ajustados ao corpo. Nos anos 1950, as estrelas de cinema mostravam na tela como a mulher poderia seduzir o homem - a lingerie rendada e sensual virou fetiche. Foi nesse período que os espartilhos sumiram de vez, dando lugar ao sutiã. Surgiram as cintas-ligas para segurar as meias-calças 7/8 e também a lycra e o náilon - ampliando, assim, as opções em roupas íntimas. Os calções encolheram e por volta de 1960 já lembravam as calcinhas de hoje. Nos anos 70, o conforto e a durabilidade ganharam uma atração a mais: a sensualidade.
É o século das grandes revoluções no universo das calcinhas e das lingeries em geral.
Surgia, então, a calcinha como a conhecemos hoje.

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